Começo com uma afirmação: Ninguém muda. Isto é, e correndo o risco de parecer a socialite L.C., somos sempre iguais a nós mesmos desde o dia em que nascemos até ao dia em que morremos.
As crianças que fomos existem em perpétuo continuum nos adultos que somos e nos idosos que seremos. Esta é, pelo menos, a minha conclusão após persistente observação quer da minha própria pessoa como do outro. Acredito que qualquer um de nós quando olha para o seu próprio olhar refletido no espelho, aquele que vê, é a criança que é, foi e será. É, ainda, uma opinião muito forte reforçada pela chegada à família dos pequenos A. e C. Olho para as suas carinhas fofas e sobretudo para a profundidade dos seus olhares e reafirmo interiormente esta ideia de permanência de nós mesmos. Digamos uma espécie de Eu Fundador.
Depois a vida acontece e é um descobrimento permanente e mais tarde ou mais cedo, como nos descobrimentos portugueses, acabamos por ser esclarecidos ser mais um “achamento” de nós mesmos e do nosso lugar no Mundo do que propriamente uma descoberta. E esse “achar” é um direito fundamental de cada um de nós. O direito a achar foi legitimado pela Professora L. numa correção de um teste de História: “Nas respostas dos testes a aluna (ou aluno, claro está, talvez a Professora L. achasse que o género feminino era mais propenso a prestar atenção às correções dos testes) não deve afirmar, porque não esteve lá, não presenciou os acontecimentos ou eventos, portanto ou refere a fonte, ou inicia a resposta com: acho que tal e tal. A partir desse dia, e mesmo quando contrariada por alguém menos achador, passei a achar tudo e mais 100 coisas. Foi libertador. Obrigada Professora L., não apenas por este ensinamento, mas por todas as suas lições.
Sendo iguais a nós mesmos, sem mudanças de maior no caracter que nos moldou, da forma, conteúdo e expressão de quem somos e do que nos calhou como o nosso Ser, há quem pense que está sozinho e quem se veja acompanhado. Quanto a mim, essa ideia de solidão é uma ilusão, um conceito um poucochinho dramático, pois na verdade nunca estamos sozinhos, pois quando nascemos temos todo um Mundo para “achar”. Não apenas o que alguns consideram o mundo de Deus, outros o mundo dos homens ou da ciência. Temos mesmo todo um Mundo! O mundo da natureza, dos bichos, das pessoas, das cidades, dos campos, do céu e do mar. Do silêncio. Do tempo. Do ruído. Dos cheiros. Dos paladares. Das cores. Dos sons. Do vento e das marés. Um Mundo feito de tantas e tantas coisas fantásticas.
E este mundo também não muda, não muda na sua essência, embora mude na sua aparência, pelo menos temporariamente, para regressar no seu continuum perpétuo. Por isso, o que não acharmos hoje podemos achar amanhã. Há sempre um novo dia para recomeçar os achamentos e as descobertas.
Agora, e ainda que “de são e de louco todos tenhamos um pouco”, se o Eu Fundador é fundamentalmente bom ou mau, “cada um sabe de si e Deus sabe de todos” e como tenho para mim que isso é um mistério, sou grata pelas (e às) pessoas que me rodeiam e me são próximas bem como as que tive a sorte de encontrar ao longo da vida e em momentos cruciais foram ajuda inestimável e que são, de facto, extraordinárias Pessoas do Bem.
Para terminar, acho que os que nasceram fundamentalistas (e visto que ninguém muda) só tem a perder, para início, perderem todo um Mundo e para final, perderem a oportunidade de se acharem de tanto se acharem a última bolacha do pacote… mas… como ninguém muda… ou será que muda?
P.S.- Em relação ao bem e ao mal, como disse aos seus filhos o autor, diretor, roteirista e ator brasileiro Marcos Vianna Caruso em resposta à questão do "Pai eu posso?": "Meu filho, poder você pode tudo... Agora, será que deve?"
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