Acerca de coisas criativas, bloqueios, ou porque estamos presos por fios invisíveis...
Recebi pelo email a notificação da publicação de nova entrada no Blog da Sara Farinha " Opinião: the Artist's Way - Julia Cameron".
Gosto muito de ler o que a Sara escreve, para mais porque me pareceu ser sobre coisas criativas de suma importância, e, por isso segui o link para ler a entrada completa (podem seguir também aqui https://blog.sarafarinha.com/2020/04/09/opiniao-the-artists-way-de-julia-cameron/ ).
Veio mesmo a calhar porque tenho partilhado na página do Facebook da Cotovia e Companhia alguns links para, durante este tempo de #ficaremcasa, ainda assim podermos fazer alguma coisa que, mesmo por pouco tempo, nos seja útil para gerir os altos níveis de stress, frustração e sobretudo preocupação. E mesmo que de modo empírico, tenho a convicção de que a criatividade é a chave para isso.
Assim, o livro apresentado aborda o tema da criatividade, mesmo que de forma indireta pela voz da Sara F. (até porque, se porventura imaginarmos uma figura de trovadora do século XXI, a Sara F. é uma trovadora "e peras", isto na minha opinião, obviamente a única coisa que figura nos meus posts a não ser que vocês comentem qualquer coisa ali em baixo, e ai a vossa opinião também passará a figurar, claro).
E a Sara cita :
...este livro será sempre o início de coisas maravilhosas...
E a análise da Sara segue, indicando algumas das ferramentas para a revelação da visão criativa, como as "páginas matinais" e "encontro de artista", até que "aterro" nos Bloqueios Criativos! Sim, com maiúscula pois são mesmo sujeitos em primeira mão de enorme trauma para todas as pessoas que tentam ser criativas!
Os verdadeiros "Bloqueios", "Bloqueios" à séria são daqueles em que a criatividade parece ter uma escolta de "coletes amarelos" a representar tudo aquilo que nos limita e que é basicamente a desconfiança. A desconfiança desdobrada em vários coletes amarelos (ou de outra cor, para o caso não é relevante).
Existem assim, para atribuição dos prémios aos mais "desconfiançudos" um pódio de ouro a bronze passando pela medalha prata:
A desconfiança, em primeiro lugar, medalha ouro da classificação definitiva para as desconfianças, da nossa capacidade para sermos pessoas criativas;
Em segundo lugar, a prata da desconfiança sobre a utilidade da criatividade. Afinal, pergunta a voz da desconfiança, mais alto do que a boa educação recomenda, para que vai isto servir?!;
E em terceiro lugar, o bronze vai para a desconfiança sobre a pertinência de dedicarmos, nesta altura em que tantas coisas graves e preocupantes acontecem a ritmo alarmante todas e cada uma das 24 horas de cada dia, dizia eu, de dedicarmos tempo a sermos pessoas criativas.
Existem ainda, sem dúvida, muitas outras desconfianças perante este tema, como a pressão social, mas por agora podemos considerar apenas estas como as mais pertinentes por terem chegado tão alto na classificação olímpica das emoções negativas.
Ora bem, pela leitura do post, elaboro uma história onde na sequência do bloqueio criativo, a fazer o prometido quando nos preparamos para exercer o direito à nossa criatividade, isto é bloquear, de repente, como num pesadelo, a nossa mente surge na biblioteca da "La Casa de Papel" onde fica refém durante todas as temporadas da série e por tempo indefinido, connosco a tentar uma negociação dificílima para resgatarmos os neurónios criativos, amordaçados e impossibilitados de serem seja o que for, muito menos criativos.
E isto porque, como entendo de seguida, os "Bloqueios" estão relacionados com as chamadas "feridas pessoais", stress pós-traumático, e outros acontecimentos graves e limitantes a funcionar como enormes trincheiras, materializadas em valas praticamente intransponíveis, tão paralisantes que mesmo que fosse possível espreitar para o outro lado, sequer consideraríamos a hipótese de saltar essa trincheira e entrar em campo aberto sob a mira do inimigo, aqui a exposição à opinião e critério "do outro", cuja voz se junta em coro alinhado com a desconfiança.
Poderei, assumo, estar bastante influenciada por todo o cenário de guerra em que vivemos atualmente e por isso esta odisseia em cenário bélico relacionada com os bloqueios.
Mas esta imagem parece-me bastante adequada para descrever não só os bloqueios, como a atual situação em que a guerra diária é continuar a cumprir e #ficar (mesmo) emcasa, apesar das saudades, apesar das datas festivas que continuam a correr no calendário pois o tempo não faz quarentena, apesar das preocupações com a saúde, com a economia, com a pandemia no geral.
Com os números assustadores e o desespero pelos mais frágeis, pelos doentes nos lares, nos hospitais, por aqueles doentes crónicos que são dependentes de tratamento hospitalar, nos mais dependentes, nos sem-abrigo, nos desempregados, desalojados, nos campos de refugiados e, depois, em particular as fragilidades reveladas nas nossas vidas e nas de quem nos é mais próximo, vimos aumentar a ansiedade a cada dia que passamos neste confinamento imposto, onde umas coisas se agigantam, como as saudades e as preocupações, e outras diminuem, como a resistência, e sim, o tamanho do bolso e da capacidade de termos as reservas necessárias para resistir até ao final desta fase, quer emocionalmente como economicamente, e sim, apesar de se racionar essas reservas, incluindo as reservas emocionais deste trauma coletivo, ainda assim existe a possibilidade de muitos podermos não chegar ao outro lado, onde esperamos estar a vida "normal" mesmo que diferente do que foi.
É aqui que entra a criatividade como a capacidade de nos reinventarmos, de termos a capacidade de encontrar formas de aceitar o que, sabemos, é muito difícil de aceitar. A criatividade de encontrar formas de verbalizar esse trauma pois é a forma de o ultrapassar.
Acontece que nem todos temos essa capacidade de verbalização, e por isso a necessidade de "verbalizar" de outras formas, através de qualquer meio expressivo, ou leia-se criativo, e através da resiliência, pôr em prática essa criatividade, não apenas para exteriorizar o trauma, como também para, de seguida o poder resolver.
Isto porque, reconhece-lo não elimina a dor mas é fundamental para tentar seguir e aguardar que, com o tempo, trabalhando, ele seja ultrapassado e incorporado naquilo que poderemos considerar como uma vida depois da vida, sendo que aqui a criatividade será encarada como um ato de coragem que nos permitirá, à nossa maneira, sermos agentes ativos de resiliência na nossa vida e na dos outros.
Finalizando com mais uma citação:
(a criatividade)"Mostrou-me (...) que saramos umas partes de nós, mas que existem feridas que estão remendadas a ouro. (...) é criar a nossa arte que responde às nossas perguntas. É ela que nos cura. (...) Precisamos aparecer como a melhor pessoa que conseguirmos ser e, um artista (ou o artista em cada um de nós) precisa aparecer como o melhor criativo que sabe ser, só assim mudamos o nosso mundo para melhor."
P.S. Para finalizar mesmo em condições, aqui ficam os links para algumas sugestões de exercício de criatividade:
-Link para seguir as lições de Phil Davis no "The Art Isolation Challenge". Trata-se de um desafio de 30 dias que aborda 30 temas diferentes relacionados com desenho, pintura e diversas técnicas.
O link para o video 1: https://www.arttutor.com/lime-wedge
O link grupo aqui no facebook https://www.facebook.com/groups/isolationartchallenge/
-Link para alguns cursos criativos gratuitos na Domestika: https://www.domestika.org/fiqueemcasa?utm_campaign=sharer&utm_content=share-https%3A%2F%2Fwww.domestika.org%2Ffiqueemcasa&utm_medium=referral&utm_source=facebook.com&fbclid=IwAR2uUPRhRqqhmMhkBlZZpDqWp5-k7URGKiSY8t2uxYMis5TD5gr7a9BhlXE#course-list
-Link para o desafio 100 dias: https://blog.sarafarinha.com/2020/04/11/the-100-day-project/?fbclid=IwAR3vE6mKM7FkRZNFlWP7tAylPRiL3-jGM6di20S7yxgkuxnskYK6uM0LEQY
-Link para cursos on-line gratuitos: https://www.edx.org/school/mitx?utm_medium=partner-marketing&utm_source=email&utm_campaign=mitx&utm_content=all-user-blast-april2020
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